Nos últimos anos, as redes sociais tornaram-se uma parte integrante da vida quotidiana para milhões de pessoas em todo o mundo. Apesar de estas plataformas oferecerem ótimas oportunidades para a conexão, partilha e interação com outras pessoas, também podem, por outro lado, ter um impacto nefasto na saúde mental. Este potencial impacto pode ocorrer por diversas razões e através de diferentes fenómenos, como os que apresentamos de seguida.
Comparação social
Um dos principais aspetos a considerar quando pensamos sobre o impacto das redes sociais na saúde mental é o fenómeno da comparação social. Quando nos expomos às vidas aparentemente perfeitas e preenchidas de outras pessoas no mundo digital, ficamos com a sensação de que saímos a perder nesse jogo de comparações no qual, inadvertidamente, acabamos por entrar. Estas comparações podem levar a sentimentos de inadequação, inveja e baixa autoestima, levando a um ciclo de verificação constante e procura por validação dos outros.
Cyberbullying
As redes sociais tornaram também mais presente, frequente e impactante o fenómeno do cyberbullying e assédio online. A capacidade de anonimato e distância física pode encorajar determinados comportamentos agressivos e prejudiciais, de modo a causar danos significativos à saúde mental das vítimas. No espaço digital a frequência com que as agressões podem ocorrer é maior, além de haver uma capacidade de atingir mais pessoas e fazer, por isso, danos maiores. Consequentemente, o cyberbullying acaba por ter consequências graves e é difícil de conter ou reverter.
Dependência
A dependência excessiva das redes sociais também é uma preocupação crescente. O constante acesso a likes, comentários e partilhas podem levar a uma procura implacável por validação e aprovação online, prejudicando assim a autoestima e a capacidade de as pessoas se relacionarem de forma saudável fora do ambiente virtual.
Dopamina falsa
A “dopamina falsa”, a segunda parte deste artigo, é criada pelas redes sociais e refere-se ao ciclo de recompensas rápidas e superficiais que estas plataformas proporcionam, levando à libertação de dopamina no cérebro. A dopamina é um neurotransmissor associado ao prazer, motivação e recompensa, sendo naturalmente libertada em resposta a experiências agradáveis, tais como comer, fazer exercício físico ou receber elogios.
De que forma as redes sociais afetam a dopamina?
Existem diferentes mecanismos a partir dos quais as redes sociais podem afetar a libertação de dopamina:
Recompensas imediatas
Plataformas como o Instagram, Facebook e TikTok, são projetadas para oferecer recompensas rápidas e fáceis, como gostos, comentários e partilhas. Cada notificação ou interação positiva pode desencadear uma pequena “explosão” de dopamina, o que faz com que o utilizador se sinta bem momentaneamente.
Ciclo de reforço
O ciclo da dopamina funciona como um reforço positivo. Quando as pessoas recebem notificações ou veem que as suas publicações foram bem recebidas, experimentam um aumento temporário de prazer. Isto pode levá-las a procurar constantemente mais dessas interações, criando um ciclo viciante de uso das redes sociais.
Esgotamento da recompensa
Com o tempo, o sistema de recompensa do cérebro pode tornar-se menos sensível às pequenas doses de dopamina proporcionadas por estas plataformas digitais, o que significa que as pessoas precisam de mais interações ou estímulos para obter o mesmo nível de prazer. Isto pode levar ao uso compulsivo das redes e a sentimentos de insatisfação ou vazio quando as expectativas de recompensa não são atendidas.

Quais as consequências psicológicas que as redes sociais podem ter?
Tendo em conta os fenómenos potencialmente nefastos identificados anteriormente, bem como a influência das redes sociais no próprio funcionamento do nosso cérebro, existem várias consequências psicológicas possíveis do uso destas plataformas:
1. Vício: O uso excessivo das redes sociais pode assemelhar-se a um vício, onde as pessoas sentem uma necessidade constante de verificar as suas contas, mesmo em detrimento de outras atividades importantes, como o trabalho, o estudo ou interações sociais reais.
2. Ansiedade e Depressão: O ciclo de comparação e busca por validação constante pode levar a sentimentos de ansiedade, baixa autoestima e, em alguns casos, depressão, especialmente quando as expectativas de recompensas (como “gostos” ou comentários) não são atendidas.
3. Diminuição da Capacidade de Concentração: A “dopamina falsa” criada pelas redes sociais pode prejudicar a capacidade de as pessoas de se concentrarem em tarefas que exigem um foco prolongado, pois o cérebro fica habituado a gratificações rápidas e constantes.
Como gerir o impacto negativo das redes sociais?
Apesar das potenciais consequências nefastas para a saúde mental que as redes sociais podem ter, é possível procurar fazer um uso equilibrado destas plataformas para que este efeito seja minimizado. Proteger a nossa saúde mental é algo que está ao nosso alcance e que podemos fazer com estratégias tais como:
1. Limitação de Uso: Estabelecer limites claros para o uso das redes sociais, como horários específicos ou períodos sem acesso às plataformas, pode ajudar a reduzir a dependência da “dopamina falsa”.
2. Consumo mais criterioso: Em vez de utilizarmos as redes sociais sem qualquer critério e permitimo-nos ser inundados por aquilo com que elas nos presenteiam, podemos fazer uma seleção mais criteriosa dos conteúdos que queremos consumir. Podemos fazê-lo escolhendo páginas e conteúdos com os quais nos identificamos, eliminando ou mesmo bloqueando páginas que impactam negativamente na nossa saúde mental, ou também usando filtros e outras ferramentas disponíveis para filtrar a informação.
3. Espírito crítico: Sabermos ter olhar crítico perante aquilo que surge nas plataformas digitais, nomeadamente reconhecendo que estas não espelham a realidade mas sim uma face alterada da realidade. Também é importante sabermos distinguir informação verdadeira de informação falsa e identificar o que são e o que não são fontes credíveis, assim como termos uma adequada literacia digital (que nos permita, por exemplo, fazer uma utilização das redes sociais em segurança e protegida).
4. Desenvolvimento da Prática de Atenção Plena: Praticar Mindfulness ou meditação pode ajudar a aumentar a consciência do impacto das redes sociais no bem-estar emocional e a reduzir a resposta automática às recompensas instantâneas.
5. Busca por Recompensas Autênticas: Envolver-se em atividades que proporcionem recompensas genuínas e duradouras, como hobbies, exercício físico ou interações sociais presenciais, pode ajudar a equilibrar o sistema de dopamina e a reduzir a dependência das redes sociais.
As redes sociais não são o inimigo, mas é preciso equilíbrio
A “dopamina falsa” das redes sociais cria um ciclo viciante que pode ter impactos negativos no bem-estar psicológico e emocional. Reconhecer este efeito e tomar medidas para moderar a utilização é crucial para manter um equilíbrio saudável na vida quotidiana.
No entanto, nem tudo é sombrio no mundo das redes sociais. Estas também oferecem oportunidades únicas para se conectar com outras pessoas, encontrar comunidades de interesses em comum e obter apoio emocional durante momentos difíceis. Para muitos, estes espaços digitais podem ser uma fonte de suporte e conexão significativa.
Para minimizar o impacto negativo das redes sociais na saúde mental, é importante adotar uma abordagem equilibrada e consciente do seu uso. Isto pode incluir:
– estabelecer limites de tempo;
– filtrar conteúdos prejudiciais;
– cultivar relacionamentos offline significativos;
– praticar a consciência plena ao navegar pelas plataformas.
Além disso, as próprias plataformas de redes sociais podem desempenhar um papel importante na promoção da saúde mental, implementando políticas e recursos destinados a prevenir o cyberbullying, fornecer suporte emocional e promover uma cultura de positividade e bem-estar online.
Em suma, o impacto das redes sociais na saúde mental é complexo e multifacetado. Ao reconhecer os desafios e benefícios associados ao seu uso, podemos trabalhar para criar um ambiente online mais saudável e equilibrado, onde a conexão virtual possa coexistir de forma benéfica para o bem-estar emocional e psicológico.