Quando pensamos na palavra “saudável” associada à comida e à alimentação, é provável que assomem à mente imagens de determinados alimentos. Talvez fruta, vegetais, uma panóplia colorida de itens que habitam o nosso imaginário referente a uma alimentação saudável.
No entanto, a palavra “saudável” faz referência a “saúde”. E a “saúde”, sabemos hoje, refere-se não só à ausência de doença mas sim ao usufruto de bem-estar e qualidade de vida. Saúde não é só física, é também mental.
Assim, será saudável a pessoa que come os vegetais, mas fá-lo em sofrimento, contando constantemente calorias e limitando a sua vida social? Alimentação é muito mais do que comida, e a sua relação com a saúde mental é estreita e bidirecional. Neste artigo, exploraremos a relação existente entre alimentação e saúde mental, lançando pistas para o que pode ser uma relação saudável com a comida.
A nossa saúde mental tem um impacto claro na forma como nos alimentamos. Não poderia ser de outra forma, se considerarmos que a maneira como escolhemos aquilo que comemos é determinada por fatores cognitivos, emocionais, comportamentais e sociais. As nossas escolhas alimentares não são meras decisões utilitárias e simplistas, elas são altamente influenciadas por como nos sentimos, o nosso estado de humor ou o contexto social em que nos encontramos.
Por isso, a saúde mental vai influenciar a alimentação, quer num sentido positivo, quer negativo. Se pretende fazer alterações no seu padrão alimentar e comer de forma mais saudável – e por comer de forma saudável entenda-se comer de forma ajustada às necessidades físicas, emocionais e sociais – o facto de usufruir de uma boa saúde mental será um facilitador nesse processo. Fará com que esteja mais consciente das suas necessidades, mais motivado/a para mudar hábitos, mais capaz de encontrar os recursos internos ou externos necessários para essa mudança.
Por outro lado, a existência de desafios ou dificuldades ao nível da saúde mental influenciará negativamente a alimentação. Uma pessoa deprimida, por exemplo, tem muitas vezes alterações do apetite. Em muitos casos traduz-se numa diminuição, mas também se pode traduzir num aumento do apetite e consequente ingestão excessiva. Além disso, o estado de humor deprimido e o cansaço e falta de motivação que lhe estão associados leva muitas vezes a que a pessoa não tenha capacidade de cozinhar ou sequer pensar nas escolhas alimentares que vai fazer. Isso pode levá-la, por exemplo, a saltar refeições, comer a comida que é mais conveniente e está mais facilmente acessível (que muitas vezes acabam por ser alimentos processados), etc.
E não é preciso existir um diagnóstico clínico para vermos a influência de dificuldades da saúde mental na alimentação. O stress, por exemplo, impacta também a forma como nos alimentamos. Se nalguns casos ele parece resultar numa diminuição do apetite e da ingestão calórica, noutros pode resultar num aumento e em escolhas alimentares diferentes do padrão habitual da pessoa.
E se a saúde mental impacta a alimentação, a relação também se verifica na outra direção: a alimentação impacta a saúde mental.
Deixamos alguns exemplos que têm sido sustentados pela evidência:
Poderíamos dar muitos outros exemplos, mas em suma percebe-se que a influência da alimentação na saúde mental é clara. De tal modo, que a alimentação pode inclusive ter um papel importante no tratamento e na prevenção de problemas de saúde mental.
No que diz respeito à prevenção, há inclusive estudos que apontam para uma redução de 16% no risco de depressão em pessoas que têm uma dieta saudável.
Ao nível do tratamento, já há também vários estudos que têm demonstrado a eficácia de intervenções nutricionais na melhoria de problemas de saúde mental, como sintomatologia depressiva e ansiosa. Mesmo em perturbação mental grave, como a esquizofrenia, também têm sido feitos estudos onde se verificam os efeitos benéficos de determinadas intervenções nutricionais e regimes alimentares.
Isto não quer dizer que mudar a alimentação substitui o tratamento por parte de um profissional de saúde mental, mas pode ser um complemento importante.
Quando falamos da relação entre alimentação e saúde mental, há um conceito importante a clarificar: o de comportamento alimentar.
O comportamento alimentar faz referência aos aspetos psicológicos e subjetivos do processo de alimentação. Falar em comportamento alimentar é importante, porque na verdade nós não comemos apenas por necessidade fisiológica; há variados fatores associados às nossas escolhas alimentares, como por exemplo o nosso estado de humor, o contexto envolvente e os estímulos sensoriais, entre muitos outros.
O comportamento alimentar acaba por moldar-se e modificar-se em função de como nos sentimos em relação à comida e aquilo que são as nossas crenças referentes à alimentação e nutrição.
Por isso, muitas vezes podem existir desafios ao nível do comportamento alimentar, quando a forma como olhamos para a comida e a percepcionamos e, consequentemente, como nos alimentamos, se torna disfuncional ou perturbada. Isto pode gerar comportamentos disfuncionais, na medida em que nos limitam ou causam sofrimento, podendo em níveis mais extremos levar a perturbações do comportamento alimentar (como a anorexia nervosa ou bulimia).
Tendo em conta a relação que existente entre alimentação e saúde mental, bem como o impacto que o comportamento alimentar pode ter no nosso bem-estar e saúde mental, é importante pensar em como podemos ter uma relação mais saudável e positiva com a comida e a alimentação.
É importante referir que não existem dicas universais, uma vez que todos somos diferentes e temos necessidades únicas. A melhor relação com a comida que podemos ter é aquela que tem em conta essas necessidades e que nos permite usufruir de um estado de saúde o mais pleno possível – física e emocionalmente.
Ainda assim, deixamos algumas pistas e orientações que podem servir de reflexão para potenciar uma boa relação com a comida:
No PSI contámos com uma equipa especializada e pode usufruir de uma intervenção articulada de nutricionista e psicólogo/a.
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